
Sofia Coppola tem o dom da frescura.
Depois de The Virgin Suicides e Lost In Translation, a realizadora termina a sua triologia sobre a adolescência. Creio que tenho de sublinhar o facto de ser a adolescência vista de uma perspectiva muito feminina e que incide maioritariamente sobre a realidade das mulheres. Os filmes de Sofia Coppola são, portanto, românticos, irreverentes, agradaveis de olhar e ainda mais interessantes quando passamos as camadas exteriores e os desconstruímos a partir de dentro, tal como uma mulher.
Marie Antoinette (o filme, não a personagem), à primeira vista, parece uma menina fútil. Demasiado berrante e histérica, com as típicas manias da adolescência como gostar demasiado de sapatos e do rosa-choque. Mas, a verdade é que as cores berrantes e o ritmo acelerado inicial do filme são apenas um escape de uma menina ingénua a um mundo desconhecido. À flôr da pele tudo é fogaz, extravagante, só o tempo nos ensina a dualidade da vida. A faceta primária em que devemos aceitar (aliás, devemos abusar) o efémero, o inconsequente... e uma faceta posterior na qual somos confrontados com um rol de responsabilidades e oportunidades que nos levam a fazer escolhas diferentes das que faziamos até então.
Todos nós nos sentimos esmagados pela enormidade do mundo quando estamos a crescer. Os olhares reprovadores, todas as inconstantes fases de adaptação e de rejeição. Marie Antoinette não é um filme sobre a revolução francesa. Não é sequer um documentário sobre a vida dos últimos reis franceses. É uma biografia da pessoa que foi Marie Antoinette contada segundo um ângulo muito específico. A comparação que me surgiu imediatamente depois de ver o filme, foi com Last Days, de Gus Van Sant. Mais do que um documento preciso sobre a figura que retrata, é um filme que carrega o peso de um olhar crítico - e crítico sem ser no sentido pejorativo da palavra - o que à partida gera opiniões muito contrárias em relação à obra. Usando um cliché comum, ou se gosta ou se detesta.
Ainda assim, Marie Antoinette tem as suas falhas. O sopro final do filme fica a saber a pouco, restando a sensação de que alguns momentos podiam ter sido melhor explorados. Alguns assuntos são abordados e "despachados" com a mesma pressa com que surgiram, pouco explorados e, feitas as contas, podiam nem ter sido mencionados para começar.
Uma coisa é certa, Sofia Coppola continua a ser uma realizadora de peso. De um talento técnico impressionante e que, ao mesmo tempo, consegue passar um romantismo pessimista, perdido nestes tempos em que a felicidade vem em comprimidos. A realizadora rema contra a corrente e mostra como a dor é muito mais interessante do que qualquer outro artifício que simula a felicidade.

 Etiquetas: Criticas |
otimo, melhor filme do ano.